A África do século VII ao XI: cinco séculos formadores


A África do século VII ao XI: cinco séculos formadores, é um texto que se encontra no terceiro volume da Coleção História Geral da África editado por Mohammed El Fasi, o mesmo é abordado por Jean Devisse e Jan Vansina, que nos mostram importantes questões à serem discutidas no que diz respeito  ao continente africano. Logo na introdução, os autores chamam a nossa atenção para não sermos pegos pelos modelos uniformes de padronização do continente africano, em suas abordagens menciona outros volumes da coleção, o que dá-nos a entender que determinadas informações para nossa melhor compreensão deveria já ter sido trabalhadas ou estudadas previamente.
Procura demonstrar a todo momento este recorte temporal (VII-XI) como de suma importância para a África do Oeste, neste período expõe uma série de transformações que ocorreram no continente a exemplo das modificações das relações dos muçulmanos com os não muçulmanos, como também o surgimento de novos reinos.

Ao explanar sobre a organização sedentária do espaço, afirmam que a sedentarização, não foi constituída como um progresso, mas sim como algo necessário ou “forçado” pelas mudanças climáticas que na sua grande maioria era desfavorável, tornando assim a necessidade de um progresso na agricultura, ou seja, um aumento na produção de alimentos para suprir a demanda. Todas essas informações os escritores trazem com o propósito de mostrar as mudanças tanto climáticas quanto organizacional.
Jean Devisse e Jan Vansina, usam na natureza do texto métodos descritivos, fazendo constantemente citações de anos, reinos e características do ambiente; numa tentativa de organizar a exposição das informações, dividem a África em: África Central, Oriental, Ocidental e Setentrional; onde especifica as características de cada uma como lugares de atividades, tipicamente voltado para a agricultura, predominância e expansão de atividade pastoril, processo de ação dicotômica, com um crescimento demográfico considerável e como ocorreu o avanço da agricultura em zonas florestais. As modificações dos meios de subsistência e a adesão de produtos importados, uma vez que a demanda era insuficiente.
Quando menciona a África Setentrional, afirma que era uma vasta zona de produção voltada para a exportação de seus produtos por via marítima. Toda a caracterização dessas “Áfricas” teve como pano de fundo mostrar este espaço como um lugar extremamente organizado em todos os aspectos, não dando margem para possíveis especulações e alimentação de alguns mitos.
O Saara, não é mostrado como um lugar intransponível, pelo contrário, ele é visto como uma rota de relações comerciais de povos do norte do continente na sua maioria muçulmanos com os povos do Sul e vice-versa. Destarte, discorda de uma série de escritores que mostram o Saara como marco divisor de diversas questões. Os autores caem na armadilha da utilização de conceitos como África Negra, pois ao utilizá-los acabam deixando nas entre linhas a existência de duas Áfricas, o que é duramente criticado por Cheikh Anta Diop (embora não mencionem seu nome)
Quando menciona o movimento das sociedades africanas, deixa claro que o mesmo era voltado para um complexo de produção ou alimentos correspondente ao crescimento das sociedades, visto que a falta de alimentos neste período e o superpovoamento, acabou criando uma emergência, havendo desta forma uma integração lingüística e cultural, o que conseqüentemente acabou criando momentos de dramas e lutas. Nesta perspectiva aponta através dessas “uniões” um grande desenvolvimento tecnológico, tanto na produção alimentícia quanto nas condições de moradia.
Sobre as histórias das tecnologias africanas, deixa claro que nos apresentara mais problemas do que resposta sobre as abordagens; para explicar sobre essas tecnologias, usa como elementos cruciais a análise de cerâmicas, extração do sal, trabalho sobre a madeira e pedra e as redes de caça e pesca que tiveram um aperfeiçoamento significativo de suas produções. A cerâmica é apresentada como objeto essencial para o conhecimento do passado da África, pois através dela segundo Jean Devisse e Jan Vansina, é possível construir sequências certeiras para os dias atuais.
No que tange sobre a abordagem de alguns metais em específico a extração do ouro, deixa algumas lacunas que foram previamente antecipadas por eles, os mesmos acabam se contradizem ao mostrar um forte comércio deste metal nos povos do sul e atribuem as técnicas de ourivesaria aos povos do norte e aos da região de Andaluzia.
Os autores, procuram a todo momento mostrar as transformações, modos de vida, organização social e comercial, motivos que levaram alguns povos a abandonarem uma atividade de subsistência para adotarem outras, para provar e desconstruir algumas inverdades que foram reproduzidas sobre o continente africano, para isso ele utiliza várias fontes para ratificar suas informações, tais como: escritas árabes, fontes arqueológicas, fragmentos de objetos, esculturas etc. Em determinados momentos lamentam o fato de não terem fontes necessárias para expor com maior segurança suas idéias, este fato não é surpresa, uma vez que é sabido que no continente africano há muitas fontes, porém distribuídas de forma que dificulte encontrá-las e conseqüentemente analisá-las.
 Ao mostrar a utilização de tecidos, mostra um grande desenvolvimento nesta área, aponta a análise desta arte como essencial pois “ fornece não somente e muito rapidamente os novos elementos da vestimenta, mas também criara signos de distinção social, bem como valores de troca e de entesouramento” (p.907) em seguida fazem questão de mostrar ouros tipos de vestimentas existentes,como as feitas de couro e a de fibras de palmeira, combatendo assim o mito que somente com o avanço do Islã é que foi  combatido a nudez do africano.
Quando menciona às formas de comércio, apontam o sal desde a técnica de extração à sua importância, constituindo ele como uma fonte de renda para os ribeirinhos do oceano, servindo de moeda de troca com outros povos, a introdução ou a utilização dos camelos proporcionou um maior desenvolvimento do comércio, agilizando o transporte de mercadorias, como foi adotado uma forma descritiva de apresentação do texto os autores citam o nome de alguns povos como os de Moçambique, Sudão e Marrocos, três povos localizados aos extremos do continente, mas nem por isso foi deixado de mostrar haver uma relação comercial os povos dos extremos do continente, a considerar a posição geográfica, porém fazem questão de mostrar que alguns povos como da África Austral e a Central que não acompanharam tal comércio ficaram apenas “restrita” à comercialização do sal.
Ao abordar as sociedades e as divisões de poderes, aponta as divergências e discussões entre pesquisadores, ao mostrar a existência de castas diferenciadas e alerta aos pesquisadores a não determinarem precipitadamente sobre a organização dos povos, uma vez que, existia e existe um grande desconhecimento de fontes e principalmente pelo fato dessas sociedades estarem passando por um processo de transformações.
Busca desconstruir do imaginário de muitos que a África só passou por um conjunto de transformações no século VII ao XI após o contato com os muçulmanos, mas nem por isso deixa de reconhecer a importância do Islã, principalmente para os povos do norte do continente; o que fica bem evidente na abordagem do tópico (sociedade e poderes) é a petição da não construção de uma análise homogênea da África.
No que diz respeito às religiões e ideologias Jean Devisse e Jan Vansina, são bem enfáticos ao mostrar a existência de dois monoteísmos: Islã e o Cristianismo, o primeiro foi tão predominante que acabou praticamente extinguindo o segundo do norte da África, então eles levantam uma questão: O que era então a religião africana? Considerando esta pergunta como uma lacuna que só poderá ser preenchida apartir de novas metodologias. Mas nem por isso deixa de descrever algumas formas de cultos e como era a prática da “religião” de alguns povos.
E assim, podemos concluir que Jean Devisse e Jan Vansina, nos apresenta o texto: A África do século VII ao XI: cinco séculos formadores, sob uma forma descritiva, utiliza alguns conceitos que para muitos africanistas são questionáveis, principalmente no que tange na divisão de uma África branca e de uma negra, e outros conceitos tipicamente usados pela historiografia eurocêntrica, utiliza em grande parte da descrição as fontes arqueológicas, fontes que propiciaram um estudo e compreensão do recorte temporal. Reconhecem que ficaram muitas lacunas à serem preenchidas por faltas de provas, mas é sabido por muitos que as brechas ou lacunas sempre existirão, afinal como nos diz Isaac Newton o que sabemos é uma gota, o que ignoramos ou desconhecemos é um oceano, e este fato ou desconhecimento é que tem despertado muitos pesquisadores à continuarem as suas pesquisas.

FONTE: História Geral da África, III: África do século VII ao XI / editado por Mohammed El Fasi. – Brasília: UNESCO, 2010. p. 881-929.


Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem