POR: Rainer Gonçalves
Sousa
Quando estudamos o
desenvolvimento da expansão marítima, muitos leitores e curiosos se apegam à
atrativa e empolgante ideia de que os homens que se envolviam em tal feito eram
grandes heróis. Sem dúvida, a coragem de se lançar em águas desconhecidas não pode
ser desconsiderada quando pensamos a respeito. Contudo, não podemos deixar de
levar em conta que a vida nos navios era cercada por degradações e incômodos
que retiram um pouco dessa impressão de grandiosidade.
Em Portugal, nação
pioneira nesse processo, o rei era responsável direto pela escolha de um homem
de confiança que pudesse organizar tão custosa viagem. Depois de saírem dos
estaleiros, as embarcações eram colocadas à frente da Ribeira das Naus, em
Lisboa, mesmo lugar onde, pela janela, o rei observava a movimentação dos
navios a serem utilizados. Ao longo de cinco dias, estes ficavam estacionados
para receberem as munições e víveres necessários para a viagem.
Feito o
abastecimento, a embarcação saía navegando pelo rio Tejo para logo atingir as
águas do “Mar Oceano”, termo que na época designava o Oceano Atlântico. Pouco
antes da partida, em meio ao choro dos parentes que temiam nunca mais ver seus
entes queridos, uma missa era realizada em favor da tripulação. Para indenizar
os que assumiam tão arriscada aventura, o governo português oferecia uma
recompensa financeira à sua família equivalente a um ano de trabalho.
Durante a viagem, um
oficial ficava postado em uma cadeira alta fixada na proa ou na popa da
embarcação. Dali ele teria que contrapor as informações de seus mapas com a cor
da águas, que variava de acordo com a profundidade do oceano. Após uma análise,
uma série de ordens era repassada ao timoneiro. Logo em seguida, no convés da
embarcação, o mestre designava as tarefas a serem rapidamente executadas pela
sua equipe de marinheiros.
Longe daquilo que se
imagina, o capitão do navio era a pessoa que menos entendia das técnicas e
expedientes que matinha o navio seguindo o seu roteiro de forma estável. Na
maioria dos casos, ele era um nobre que representava a autoridade do rei na
embarcação. Dessa forma, o capitão era quem exercia a função estritamente
política de intermediar os conflitos entre os tripulantes e dar a palavra final
sobre algum problema ou decisão a ser tomada.
Passada toda a
agitação que cercava o cotidiano do navio diurnamente, os tripulantes se
recolhiam à noite para buscar algum descanso no porão do navio. Nesse momento,
marujos, soldados, cargas e animais se misturavam na insalubridade de um lugar
nada confortável. Essa agonia só não era reservada aos que ocupavam altos
cargos na embarcação. O capitão e os oficiais militares de alta patente
costumavam se alojar em camarotes privados onde também poderiam levar os
membros de sua família.
Uma alimentação farta
e saudável era praticamente impossível nesses mesmos ambientes. Não tendo
espaço para estocar comida e água suficientes, os tripulantes passavam por
sérias privações. A ração diária fornecida aos tripulantes comuns não passava
de três refeições compostas por biscoito, e duas pequenas doses de água e
vinho. Somente os mais privilegiados tinham a possibilidade de usufruir de
carnes, açúcar, cebolas, mel, farinha e das frutas que eram transportadas.
As munições eram
muito bem guardadas e nenhum tripulante vulgar poderia se utilizar de armas sem
a expressa autorização. O uso de armas só acontecia deliberadamente quando
algum navio pirata atacava a embarcação. Caso contrário, seguia-se a dura
rotina dessa aventura inglória em que se corria atrás das desejadas riquezas de
outras terras e povos.
Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/a-aventura-das-grandes-navegacoes.htm.
Acesso em 14 de set de 2021.
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