O reino recebeu
recentemente esse nome, depois que uma cidade foi construída por um rei chamado
Mansa Suleyman, no ano 610 da Hégira (1232), próxima doze milhas de uma filial
do rio Níger (Mansa Suleiman reinou nos anos 1336-1359. Na verdade, a cidade de
Tumbuctu foi provavelmente fundada no século XI pelos tuaregues, e antes foi
capital do reino de Mali em 1324.)*
As casas de Tombuctu
são choupanas feitas de pau-a-pique de argila, cobertas com telhados de palha.
No centro da cidade há um templo construído de pedra e de almofariz por um
arquiteto de nome Granata. (Ishak es Sahili el-Gharnati, trazido para Tumbuctu
por Mansa Suleiman.)
Além do templo, há um
grande palácio também construído pelo mesmo arquiteto, onde o rei vive. As
lojas dos artesãos, dos comerciantes, e, especialmente, as dos tecelões de pano
de algodão, são muito numerosas. As telas são importadas da Europa para
Tombuctu, carregadas por comerciantes da Barbária. (Por caravanas de camelos
que passavam pelo deserto do Saara vindas da África do Norte.)
As mulheres da cidade
mantêm o costume de vendar seus rostos, com exceção dos escravos, que vendem
todos os gêneros alimentícios. Os habitantes são tão ricos, especialmente os
estrangeiros que se estabeleceram no país, que o rei atual deu duas de suas
filhas a dois irmãos, ambos homens de negócios, pois era ciente de suas riquezas.
(O autor se refere a Omar ben Mohammed Naddi, que não era de fato o rei, mas um
representante do rei de Songai.)
Há muitos poços que
contêm água doce em Tumbuctu. Além disso, quando o rio Níger está cheio, canais
levam a água para a cidade. Grãos e animais são abundantes, de modo que o
consumo de leite e de manteiga é considerável. Contudo, o fornecimento de sal é
fraco, porque ele é levado daqui para Tegaza, que fica cerca de 500 milhas de
Tumbuctu.
Eu mesmo estava na
cidade no momento em que uma carga de sal foi vendida por oito ducados. O rei
tem um rico tesouro rico de moedas e pepitas de ouro. Uma dessas pepitas pesa
970 libras. (Como vimos, os escritores muçulmanos mencionam freqüentemente as
fabulosas pepitas de ouro africanas, mas atualmente há a tendência de se
considerar os tamanhos descritos por eles um exagero.)
A corte real é
magnífica e muito bem organizada. Quando o rei vai de uma cidade a outra com as
gentes de sua corte, monta um camelo e os cavalos são conduzidos manualmente
por servos (escravos). Se a luta é necessária, os servos montam os camelos e
todos os soldados montam nas costas dos cavalos. Quando alguém desejar falar
com o rei, deve ajoelhar-se diante dele e curvar-se ao chão; mas isto é desejar
falar com o rei, deve ajoelhar-se diante dele e curvar-se ao chão; mas isto é exigido
somente daqueles que nunca falaram nem com o rei, nem com seus embaixadores.
O rei tem
aproximadamente 3.000 cavaleiros e uma infinidade de soldados de infantaria,
todos armados com arcos feitos de funcho selvagem, e com o qual disparam setas
envenenadas. (Funcho é uma planta aromática e ramosa, de grande importância
medicinal.)
Este rei faz a guerra
somente contra os inimigos vizinhos e contra aqueles que não aceitam lhe pagar
tributo. Quando obtêm uma vitória, ele vende todos os inimigos, inclusive as
crianças, no mercado em Tumbuctu.
Os pobres cavalos
nascem pequenos neste país. Os comerciantes usam-nos para suas viagens e os
cortesãos para mover-se na cidade. Os bons cavalos vêem da Barbária. Chegam em
uma caravana e, dez ou doze dias mais tarde, são conduzidos ao soberano, que,
caso goste, os examina e paga apropriadamente por eles.
O rei é um inimigo
declarado dos judeus. Ele não permitirá que nenhum deles viva na cidade. Caso
ouça que um comerciante da Barbária anda ou faz negócio com eles, o rei
confisca seus bens. Há numerosos juízes em Tumbuctu, professores e sacerdotes,
todos bem nomeados pelo rei, que honra muito as letras. Muitos livros escritos
à mão e importados da Barbária são vendidos. Há mais lucro nesse comércio do
que em toda a mercadoria restante.
Ao invés de dinheiro,
são usadas pepitas puras de ouro como moeda de troca. Para compras pequenas,
escudos de cauris trazidos da Pérsia; quatrocentos cauris igualam um ducado.
Seis ducados e dois terços correspondem a uma onça romana de ouro. (Como vimos,
os cauris eram conchas de moluscos utilizadas como moeda, desde o Sudão até a
China; um ducado de ouro sudanês deveria pesar cerca de 15 gramas.)
Os povos do Tumbuctu
são de natureza calma. Têm um costume quase regular de caminhar à noite pela
cidade (com exceção daqueles que vendem ouro), entre dez e uma hora da
madrugada, tocando instrumentos musicais e dançando. Os cidadãos têm muitos
escravos a seu serviço, tanto homens quanto mulheres.
A cidade corre muito
perigo de incêndios. Quando eu estava lá em minha segunda viagem (provavelmente
em 1512), metade da cidade queimou no espaço de cinco horas. Com medo de o
vento violento levar o fogo para a outra metade da cidade e também queimá-la,
os habitantes começaram a tirar seus pertences. Não há nenhum jardim ou pomar
na área que cerca Tumbuctu.
*Os comentários entre
parênteses são dos autores que traduziram o texto bem como os grifos.
Fonte: Leo Africanus:
Description of Timbuktu, from The Description of Africa [1526]. In: NISHIKAWA,
Taise Ferreira da Conceição. História Medieval: História II. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2009, p. 34-53. Disponível
em:<https://logosapologetica.com/expansao-arabe-africa-imperios-negros-gana-mal
i-songai-secs-vii-xvi/#ixzz5UXAaG987>. Acesso em: 14 FEV. 2022.
Agora que você leu
este documento histórico que tal responder a atividade abaixo:
Pinte a resposta das perguntas de acordo as cores sugeridas:
- Quais trechos demonstram as práticas do rei?
- O que o viajante relata sobre as práticas comerciais?
- Sobre a importância da riqueza, quais trechos a demonstram?
- Quais são as características físicas e culturais de tombuctu?
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