Você já leu um fragmento do livro o
príncipe? Não? O que você está esperando? Vem comigo que você não se perde.
Conheça um pouco mais sobre este clássico da literatura mundial, que está
entre as mais lidas da nossa literatura desde o século XVI, o autor tenta
definir o poder, as formas de governo, as virtudes do soberano e uma nova ética
do fazer político. Refletindo as condições da época, o combate às tradições
medievais e uma abordagem livre de fatos históricos. Esta obra é parte
preponderante no legado essencial que Maquiavel deixou para a ciência política.
Maquiavel é considerado o fundador da filosofia política moderna,
uma vez que, ele rompe com o processo de entendimento intelectual que existia até
então. Enquanto os filósofos antigos, pensavam a política de um forma utópica, Maquiavel
vai dizer que a política é como ela verdadeiramente é, ou seja, devemos
observar o formato que ela se apresenta e não como deveria.
Para o filósofo o governante deve fazer o que for necessário
para se manter no cargo, não por acaso, é atribuída a ele a celebre frase “os
fins justificam os meios”
Ele orienta uma nova moral, uma nova ética de comportamento onde
o governante não precisa se preocupar com o bem comum, como pensava Aristóteles
e outros pensadores, mas sim em como manter-se no governo. O livro é dedicado à
Lourenço de Médici que chamava “O
Príncipe”, no intuito de ser perdoado e assim voltar a administração do
principado florentino. O Lourenço de Médici concedeu a Maquiavel o perdão e
ofereceu a ele o título de historiador.
Nesta importante obra, Maquiavel nos apresenta algumas
estratégias de como os homens de estado
deveriam agir para serem beneficiados de acordo com a realidade vivida. Assim sendo,
se manteriam no estado e expandiriam o poder.
Então vamos lá ...
Vale mais ser amado ou temido?
O ideal é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir as duas coisas, é muito mais seguro - quando uma delas tiver que faltar - ser temido do que amado. Porque, dos homens em geral, se pode dizer o seguinte: que são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do ganho. E enquanto lhes fazeis bem, são todos vossos e oferecem-vos a família, os bens pessoais, a vida, os descendentes, desde que a necessidade esteja bem longe. Mas quando ela se avizinha, contra vós se revoltam. E aquele príncipe que tiver confiado naquelas promessas, como fundamento do ser poder, encontrando-se desprovido de outras precauções, está perdido. É que as amizades que se adquirem através das riquezas, e não com grandeza e nobreza de carácter, compram-se, mas não se pode contar com elas nos momentos de adversidade.
Os homens sentem menos inibição em ofender alguém que se faça amar do que outro que se faça temer, porque a amizade implica um vínculo de obrigações, o qual, devido à maldade dos homens, em qualquer altura se rompe, conforme as conveniências. O temor, por seu turno, implica o medo de uma punição, que nunca mais se extingue. No entanto, o príncipe deve fazer-se temer, de modo que, senão conseguir obter a estima, também não concite o ódio.
Nicolo Maquiavel, in 'O Príncipe'
REFLEXÃO
Maquiavel se perguntava se, para um príncipe, era melhor ser amado ou
ser temido. E dado que ambas as qualidades são mutuamente excludentes, era
preciso escolher apenas uma delas. Mas qual seria a melhor? O pensador
renascentista concluiu que ser temido é muito mais seguro do que ser amado.
Isso porque, segundo ele, dos homens pode-se dizer que geralmente são ingratos,
volúveis, dissimulados e ambiciosos.
É claro que, enquanto se lhes faz o bem, tudo isso fica oculto sob a
pele. Enquanto se está provido abundantemente, não há dificuldade em se lhes
comprar o amor e o apoio. No entanto, aquele líder que subitamente se
vê em grandes dificuldades, não demora até que também se veja abandonado por
seus outrora fiéis colaboradores, ou até mesmo traído por eles. Porque, dizia
Maquiavel, “os homens têm menos escrúpulo em ofender a alguém que lhes dedica
amor do que a quem lhes inspira temor”. Pois toda amizade é mantida por um
liame muito tênue, dada a natureza egoísta do homem. Já o temor, por sua vez, é
mantido pelo receio de castigo, e esse não desaparece tão facilmente. É isso o
que acontece, por exemplo, com aquele funcionário que, por contar sempre com a
compreensão e indulgência de seus superiores, não sofre qualquer hesitação de
consciência ao faltar ao trabalho ou cometer qualquer outra falha
deliberadamente.
No outro extremo, no entanto, aquele trabalhador cujos superiores
despertam-lhe temor busca guiar-se sempre pela prudência. Ele toma decisões
cautelosamente. Busca honrar os compromissos que assume. E esforça-se tanto
quanto pode para evitar erros. Isso tudo porque, parafraseando Maquiavel, ele
teme as consequências dos seus atos.
Mas os ensinamentos de “O Príncipe”, a despeito das grandiosidades que
prometem, devem ser assimilados com muitas reservas. Não são poucas as pessoas
que, por terem lido mal a obra, acabam atribuindo ao seu autor o título de
criador e justificador moral da tirania. Mas ambas essas ideias são
equivocadas. Os fins não justificam os meios. E mesmo para Maquiavel há limites
muito claros para o uso do poder.
Ao defender, por exemplo, que um príncipe incapaz de fazer-se amado deve
fazer-se temido, ele adverte, logo em seguida, que tal governante deve
esforçar-se para evitar despertar o ódio de seus colaboradores, posto que, diz
ele, “podem muito bem coexistir o “ser temido” e o “não ser odiado””. Há,
enfim, muito que se aprender com Maquiavel, mas suas valiosas e polêmicas
lições situam-se num terreno escorregadio, onde, não raramente, tiranos
confundem autoridade com truculência e temor com terror. É o terreno do poder.
Fontes:
O Príncipe. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. 2.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/da-crueldade-e-da-piedade-principe-cap-xvii-/
Acesso em 06 de maio de 2020
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