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Era uma vez, há milhares de anos, um grupo de humanos primitivos sentado ao redor de uma fogueira recém-descoberta. Para eles, o fogo não era apenas calor; era um milagre. Iluminava a escuridão, afastava os predadores e permitia que a carne fosse cozida, facilitando a digestão. Naquele momento, talvez sem saber, esses nossos ancestrais haviam dado um passo crucial no que chamamos de “progresso”. Agora, feche os olhos por um instante e imagine. Troque a fogueira por uma tela brilhante de um smartphone. Substitua as cavernas por apartamentos e as pinturas rupestres por posts nas redes sociais. Mais de 10 mil anos se passaram, mas será que realmente mudamos tanto assim?
Na
pré-história, as ferramentas eram simples: uma pedra lascada, uma lança, o
domínio do fogo. Hoje, nossas ferramentas são algoritmos, redes de alta
velocidade e inteligências artificiais. O paradoxo está em como continuamos
sendo movidos pela mesma essência humana: a curiosidade de entender, criar e
sobreviver.
O
filósofo Martin Heidegger dizia que a técnica é muito mais do que ferramentas;
é um modo de revelar o mundo. Quando o homem primitivo lascava uma pedra, ele
revelava sua capacidade de transformar a natureza a seu favor. Quando usamos a
tecnologia hoje, revelamos nosso desejo de superar limites. Mas Heidegger
também nos alerta: será que não estamos nos tornando escravos de nossas
próprias criações? Naquele tempo, o fogo era uma conquista compartilhada. Todos
se reuniam ao seu redor, unidos por um objetivo comum. Hoje, nossas
tecnologias, embora conectem o mundo, muitas vezes nos isolam em bolhas
individuais. Quantos de nós, mesmo sentados à mesma mesa, olhamos para as telas
ao invés de olhar nos olhos uns dos outros? É curioso pensar que, ao mesmo
tempo em que avançamos tanto, ainda carregamos os mesmos dilemas. Na
pré-história, lutávamos contra a natureza para sobreviver; hoje, lutamos contra
o excesso de informações para encontrar significado. Naquela época, nossas
ferramentas eram uma extensão de nosso corpo; hoje, parecem uma extensão de
nossa mente.
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Imagem gerada por IA |
Então,
aqui estamos nós, filhos do fogo e pais da inteligência artificial. Talvez a
maior lição que possamos tirar da pré-história seja esta: é a forma como usamos
nossas ferramentas – e não elas mesmas – que define quem somos. Se o fogo foi
capaz de unir nossos ancestrais, que a tecnologia possa nos lembrar que, acima
de tudo, somos humanos. E aí, vem comigo que você não se perde, que tipo de
legado queremos deixar para aqueles que olharão para nossas ferramentas no
futuro?
Por: Gilberto
Farias
Graduado em História e Pedagogia
Pós-graduado em História do Brasil e Psicopedagogia Clínica e Institucional
Especialista em Educação Digital.
RÜDIGER, Francisco. Martin Heidegger e a questão da técnica: prospectos acerca do futuro do homem. Porto Alegre: Sulina, 2006.
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