Nas costas do Povo






Preparando mais uma vez a minha aula de História, não pude deixar de olhar mais uma vez aquela imagem antiga: um camponês curvado carregando nas costas um nobre e um padre –, me peguei pensando no quanto aquela cena continua atual. Século XVIII, França. Uma sociedade dividida em três "estados": o clero, a nobreza e... todo o resto. Esse “todo o resto” era chamado de Terceiro Estado. Trabalhava, pagava impostos, carregava o país nas costas — literalmente, como mostra a gravura — mas não tinha voz, nem vez.

 

Enquanto os nobres e o clero viviam em palácios, com roupas luxuosas, festas, caçadas e isenção de impostos, a maioria da população mal tinha pão pra comer. O Rei Luís XVI reinava como se tivesse sido escolhido por Deus, e Maria Antonieta, rainha de cabelos altos e pouca sensibilidade, dizia ao povo faminto: "Se não têm pão, que comam brioches".

 

Mas nem todo mundo aceitava isso calado. Lá nas ruas de Paris, nas feiras, nas oficinas, surgiram os sans-culottes — os “sem culotes”, como eram chamados com desdém por não usarem as calças elegantes da elite. Eles vestiam calças simples, de tecido grosso, como os trabalhadores. Foram zombados, diminuídos, tratados como se fossem menos gente. Mas foram eles que começaram a levantar a voz. Foram eles que tomaram as ruas, marcharam com coragem, e disseram: “Basta!”.

 

Os sans-culottes talvez não soubessem que fariam História, mas fizeram. Eles não queriam mais carregar nas costas os que não se mexiam. Queriam justiça, pão, liberdade. Queriam ser vistos como gente. Agora, para e pensa comigo: quantas vezes a gente vê essa cena se repetir hoje? Quantas pessoas continuam carregando o peso do mundo nas costas, trabalhando duro e recebendo pouco? Quantas ainda vivem à margem, julgadas pela roupa, pela cor, pelo lugar onde moram ou pelo jeito de falar?

 

A Revolução Francesa não acabou de verdade. Ela continua cada vez que alguém diz “isso não está certo”. Cada vez que lutamos por igualdade, por respeito, por um mundo onde ninguém seja tratado como invisível. A História é um espelho — e às vezes o reflexo assusta.

Mas é olhando para trás que a gente entende como mudar o que está à frente.

E, como eu sempre digo:

 

História é bom demais, vem comigo que você não se perde! 

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