As teorias raciais do século XIX e suas características

 As teorias raciais do século XIX e suas características


Na segunda metade do século XIX, o naturalista inglês Charles Darwin desenvolveu a Teoria da Evolução das Espécies. Em linhas gerais, o cientista constatou que a natureza selecionava os organismos com mais chances de sobreviver à disputa por alimentos. Assim, ao longo dos milhões de anos, as espécies mais fortes, incluindo a humana, passaram suas características aos seus descendentes, que conseguiram evoluir, originando organismos cada vez mais fortes e diversos.




A partir de 1870, houve tentativas de aplicar as ideias de Darwin para compreender as sociedades humanas, originando, assim, o darwinismo social, sustentado pelo filósofo inglês Herbert Spencer




De acordo com essa teoria, os seres humanos são considerados desiguais e, nesse contexto, algumas características biológicas, culturais e sociais seriam responsáveis por determinar os sujeitos mais aptos e os mais inaptos para a vida em sociedade. Entre essas características estava a "raça": aqueles que pertenciam a uma "raça superior" obteriam sucesso e poder e, os demais, pertencentes a uma "raça inferior" morreriam mais cedo e deixariam menos descendentes.




No final do século XIX, desenvolveram-se outras teorias a partir do darwinismo social. Em 1883, o estudioso Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin, desenvolveu o conceito de eugenia, determinado que, para alcançar o "progresso", as nações deveriam realizar o "aperfeiçoamento da raça", isto é, investir na formação de uma elite genética, possuidora de "genes bons". Para isso, tornava-se necessário eliminar ou desencorajar a procriação das chamadas "raças inferiores", tidas como possuidoras de "genes ruins".




Alguns intelectuais brasileiros, como Sílvio Romero (1851-1914) e Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), transpuseram as teorias raciais para o Brasil, identificando a miscigenação como responsável pelo "atraso" da nossa sociedade, quando comparada às sociedades europeias industrializadas.


Segundo esses pensadores, a saída para garantir o desenvolvimento do país estava no branqueamento da população, que se realizaria a partir do estímulo à imigração europeia. Acreditava-se que, a partir da miscigenação, a raça "superior", no caso, a branca, iria se sobressair sobre as "raças inferiores" – preta e parda –, levando-as ao total desaparecimento.



O RACISMO CIENTÍFICO NA LITERATURA


1. O Mulato (1881) – Aluísio Azevedo

Esse romance naturalista expõe o preconceito racial e social do Brasil do século XIX. Embora critique o racismo, também reproduz algumas ideias da época.


📜 Fragmento:

"A cor do mulato, todavia, era bem pouco carregada; mas mesmo assim bastava para fazer dele um homem excepcional e dar-lhe na sociedade um caráter equívoco. Não era branco, não era negro: era pardo. Não pertencia a raça alguma."


🔎 Nesse trecho, nota-se o pensamento racial determinista, no qual a mestiçagem é vista como um fator de exclusão e indefinição social.


2. Os Sertões (1902) – Euclides da Cunha


Embora a obra critique a violência contra os sertanejos de Canudos, também reforça a visão racista ao caracterizar os mestiços como inferiores.


📜 Fragmento:

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Mas essa força é rudimentar, um reflexo atávico de raças inferiores."


🔎 Aqui, nota-se a influência do determinismo racial, que associa características físicas à "inferioridade" das populações mestiças.

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