Hoje
07/03/2025 foi um daqueles dias que fazem valer a pena ser professor de
História. Estávamos imersos em uma discussão sobre a formação do Estado
Moderno, navegando pelas mudanças políticas que moldaram a transição da Idade
Média para a Moderna. Meus alunos do 8º ano estavam atentos, acompanhando cada
explicação sobre como os reis europeus consolidaram seu poder, muitas vezes
entrando em conflito com a nobreza e a Igreja.
Até que, no meio da aula, uma mão se ergueu no meio da sala. Era B.G.A.L, um dos mais curiosos da turma. Com um olhar perspicaz, ele lançou a pergunta que me fez sentir um misto de surpresa e orgulho:
—
Professor, como uma monarquia parlamentarista na Inglaterra permitiu que as
práticas do absolutismo ganhassem força novamente durante a dinastia Thudor?
Por
um momento, deixei o silêncio pairar sobre a sala. Olhei para os demais alunos,
que também pareciam esperar ansiosamente pela resposta. Mas, antes de falar,
precisei conter o sorriso que teimava em se formar. B.G.A.L, não apenas entendeu os conceitos que
discutimos ao longo das últimas aulas, mas conseguiu fazer conexões entre
momentos históricos diferentes.
Respirei fundo e, então, expliquei: a monarquia parlamentarista inglesa, de fato, tinha um Parlamento atuante, mas os monarcas Thudor — especialmente Henrique VIII e Elizabeth I — souberam contornar essa estrutura, concentrando poderes e agindo de maneira quase absolutista. O Parlamento existia, mas era frequentemente manipulado ou coagido pelos interesses reais. Assim, o absolutismo encontrou um terreno fértil para se fortalecer, mesmo dentro de um sistema que, em teoria, deveria equilibrar poderes.
O
brilho nos olhos dos alunos enquanto eu falava era impagável. As perguntas
continuaram surgindo, e a discussão tomou rumos ainda mais interessantes. O que
era para ser uma explicação se transformou em um verdadeiro debate, em que eles
traziam exemplos, comparavam com outros períodos e até mesmo com governos
contemporâneos.
Senti, mais uma vez, aquela certeza de que minha missão vai muito além de ensinar datas e conceitos. Estou formando cidadãos críticos, capazes de analisar o passado para entender o presente.
Ao
final da aula, enquanto recolhia minhas anotações, refleti sobre como aprendo
todos os dias com meus alunos. A História é viva, e cada pergunta inesperada me
faz enxergar novos caminhos.
Saindo da sala, não pude deixar de pensar no nosso próprio tempo. Quantas vezes acreditamos estar vivendo em democracias consolidadas, mas nos deparamos com líderes que tentam concentrar poder? Quantas vezes instituições que deveriam ser independentes acabam cedendo a pressões políticas? O passado se repete, ainda que sob novas roupagens.
Hoje,
mais do que nunca, acredito piamente nesta geração. Se aos 13, 14 anos, eles já
questionam as estruturas de poder, imaginem o impacto que terão no futuro. Sim,
eu sou professor. Mas, acima de tudo, sou um eterno aprendiz.
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